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segunda-feira, 24 de maio de 2021

Livro narra perseguição da ditadura a Tony Tornado: ‘importou o gesto-símbolo do poder negro’

Imagem Internet
Áudio da Matéria no final da Pagina.
 

O livro “Dançando na mira da ditadura: bailes soul e violência contra a população negra nos anos 1970” vai mostrar como a juventude negra foi alvo de violações durante o regime militar. A obra foi escrita por Lucas Pedretti, o historiador que encontrou o dossiê usado para prender Caetano Veloso, ponto de partida do filme “Narciso em férias”.

Entre diversos documentos e situações, Pedretti narra como Tony Tornado foi alvo do Centro de Informações do Exército durante o 5º Festival Internacional da Canção, em 1970. No documento intitulado “Flávio Cavalcanti, Tony Tornado e Danuza Leão tentam suscitar o problema da discriminação racial no Brasil”, os militares relatam que Tony importou o “gesto-símbolo do ‘poder negro’ (comunista)”.

O relatório revela que “toda máquina policial se movimentou nos bastidores do Maracanãzinho para impedir os gestos de caráter político do cantor” — ou seja, a saudação à moda dos Panteras Negras.

O livro, que será editado neste ano pelo Arquivo Nacional, também descreve como o Exército monitorou outros artistas negros.

 Fonte: Geledés

Áudio da Matéria:



terça-feira, 18 de maio de 2021

QUATRO MENINAS BRASILEIRAS ESTUPRADAS POR HORA. UM CRIME GENERALIZADO E SILENCIADO

 


Uma garota em um parque em São Paulo nesta quinta-feira. Mais da metade dos estupros no Brasil são contra menores de 13 anos. LELA BELTRÃ

Reportagem em áudio  no final da pagina:

Mais de 5.300 menores de 13 anos no Brasil denunciaram abusos sexuais em 2019. A ponta do iceberg, pois considera apenas o que chega aos ouvidos da polícia

Geralmente são notícias curtas na imprensa local. “Um homem e uma mulher foram presos pelo estupro de uma menina de 13 anos. O delegado explica que o homem, casado com uma tia da vítima, a estuprou durante seis anos. Os fatos eram do conhecimento da mãe e da avó”. As prisões aconteceram na quarta-feira, 5 de maio, em Pinheiros, cidade de 77.000 habitantes no Norte do Brasil. Nem a idade da vítima nem as circunstâncias são algo excepcional. Informação anódina que narra crimes cotidianos. As estatísticas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) são chocantes. A cada hora, quatro meninas menores de 13 anos são estupradas no Brasil, de acordo com os números mais recentes. Mais da metade das 5.636 vítimas em 2019 tinha menos de 13 anos.

E isto é apenas a ponta do iceberg, pois considera apenas o que chega aos ouvidos da polícia ou dos serviços de saúde. “A violência sexual contra crianças está envolvida por um pacto de silêncio”, enfatiza Márcia Bonifácio, chefe de uma equipe de psicólogos e psicopedagogos da Prefeitura Municipal de São Paulo que apoia as escolas quando surge um aluno problemático. Seu comportamento muitas vezes esconde que é vítima de violência sexual ou de algum outro tipo.

Três brasileiras, a educadora Bonifácio, a promotora Renata Rivitti e a diretora do Instituto Liberta, Luciana Temer, usam sua vasta experiência para ajudar a entender os contornos desse crime tão arraigado nesta cultura patriarcal e machista repleta de tabus que, ao mesmo tempo, promove a sexualização precoce. “É um círculo muito perverso com poucos finais felizes”, diz Bonifácio.

A vítima pode ser uma menina de quatro anos que se masturba quatro vezes ao dia na aula, uma garota de 10 anos que começa a mostrar a figura de uma mulher grávida, um menino de sete anos que obriga seus colegas a fazer sexo oral, uma adolescente aplicada e retraída que aparece com um olho roxo e oferece explicações pouco credíveis... As vítimas não seguem um padrão. Os agressores sim: “Não tenho notícias de nenhum caso em que a agressão tenha sido perpetrada por um estranho”, diz Bonifácio. Geralmente pertence ao entorno familiar. O pai, o padrasto, irmãos mais velhos, tios, avós, amigos da família...

Aqueles que combatem a violência sexual contra as crianças insistem em como ela é democrática. No muito desigual Brasil, não diferencia raças ou classe social. A Unicef estima que 120 milhões de mulheres tiveram um contato sexual indesejado antes dos 20 anos.

O Código Penal Brasileiro considera estupro de pessoa vulnerável manter relações carnais ou praticar qualquer ato libidinoso com menor de 14 anos. As agressões podem começar muito cedo e durar muitos anos. Não é rara a cumplicidade da mãe ou de outros parentes, nem que a vítima seja responsabilizada por destruir a família ou deixá-la sem amparo quando o agressor é quem traz o dinheiro para casa. Costuma ser um processo in crescendo, no qual os abusos são cada vez mais invasivos, mas sutis. Muitas vezes não deixam marcas.

Márcia Andrea Bonifácio lidera uma equipe de apoio às escolas que detectam casos de violência sexual. LELA BELTRÃO

“Quando têm entre zero e seis anos, as vítimas têm pouco repertório, podem até perceber isso como uma brincadeira, como uma demonstração de carinho, sentem prazer, não têm parâmetros e é muito comum o agressor exigir que guardem o segredo”, explica a promotora Rivitti. Elas são pequenas demais para distinguir o que é certo e o que não é. Uma dificuldade que não depende apenas da idade. Bonifácio, cuja equipe se chama Núcleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem, lembra o caso de uma adolescente de 13 anos de uma família evangélica que descobriu em uma aula de ciências que aquilo que o pai fazia com ela desde que com oito menstruou pela primeira vez era sexo. Aquela garota não tinha televisão, celular ou internet. Por isso, diz a promotora, as aulas de educação sexual são tão importantes. 

Os casos mais graves vêm à tona em um hospital

Detectar o abuso é o primeiro passo. Quando são pequenos, geralmente se descobre pelo comportamento na escola. Se forem mais velhos, contam a alguém de confiança. Os casos mais graves vêm à tona em um hospital.

Descobrir o abuso não é fácil, proteger a vítima sem minimizá-la, tampouco. E perseguir o crime, menos ainda. A promotora Rivitti afirma que levar a vítima para um abrigo deve ser o último recurso. Grande é o risco do que chamam de violência institucional. Se depois de peregrinar por diferentes serviços para repetir seu primeiro relato perante o conselho tutelar, a polícia, o hospital, submetendo-se a uma avalanche de perguntas e um minucioso exame pericial, a menina acaba longe de seus parentes, de seu bairro, de sua escola e de seus amigos, ela se culpa. Diz ‘minha boca está amaldiçoada, eu falei e me castigaram’.” Algumas se desmentem porque o preço que pagam por revelar o abuso não lhes compensa.

“Temos que dar informações às vítimas para que entendam o que é o abuso, para que saibam relatá-lo e temos que dar crédito ao que dizem”, insiste a promotora Rivitti. Isso é um começo. Depois tentam identificar um membro da família para proteger a menina em casa e afastar o estuprador. Se ele é fonte de renda, tentam buscar ajuda financeira.

E a punição aos agressores? Conseguir um caso suficientemente sólido para ser levado ao juiz é outra grande dificuldade. Geralmente é a palavra da criança contra o adulto. O pior pesadelo de quem combate o estupro infantil é que o tribunal absolva o acusado. “Não podemos entregar o cordeiro ao lobo com aval judicial”, alerta a promotora.

Apesar da complexidade do desafio, cada uma das três lutas em uma frente para que na próxima hora quatro brasileiras menores de 13 anos não sejam estupradas. Temer o faz à frente do Instituto Liberta, com documentários como Um crime entre nós, com o qual busca sensibilizar, romper “o círculo perverso da normalização do abuso”. Entre os recrutados para a missão, um dos homens mais famosos do Brasil, o apresentador da Rede Globo Luciano Huck, cujo nome é citado como candidato à presidência.

A promotora Rivitti tenta replicar no Estado de São Paulo o modelo que criou em Jacareí, cidade de 235.000 habitantes do interior, onde através da coordenação dos serviços educacionais, sociais e de saúde conseguiu proteger melhor as vítimas, o que levou a mais denúncias, menores testemunhas em julgamentos e mais condenações. Ela trabalha com uma rede de 70 outros promotores.

Com as escolas fechadas durante meses devido à pandemia, a equipe liderada por Bonifácio abriu novos canais para os alunos lançarem um SOS. Criou um site que canalizou as denúncias de 200 casos de violência em nove meses. Destes, 56 eram de violência sexual.

Fonte: EL/PAIS/BRASIL

Áudio Reportagem:


quarta-feira, 12 de maio de 2021

CHEFE DA PM-RJ CORONEL CARLOS CERQUEIRA, ASSASSINADO EM 1999 POR TENTAR HUMANIZAR A POLICIA MILITAR DO RIO DE JANEIRO.

 


O coronel Carlos Cerqueira foi o policial negro que tentou humanizar a Polícia Militar do Rio de Janeiro e acabou assassinado em um crime até hoje polêmico.

Nos anos 80, o coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira já tinha pelo menos duas décadas de trabalho policial. Ele foi nomeado pelo governador Leonel Brizola para ocupar o cargo de Secretário Chefe de Polícia Militar, órgão recém-criado pelo então governador do Rio de Janeiro, em 1983.

Carlos Cerqueira era umdefensor dos direitos humanos e tinha um entendimento do crime como um produto social, fruto da pobreza e desigualdade. Defendia, desde a época de oficial, que a polícia não deveria usar truculência e violência desmedida contra moradores da periferia, pois nem todos ali eram bandidos. Braço direito de Brizola na segurança, Cerqueira combateu maus policiais e grupos de extermínio durante os anos 80 e início dos anos 90.

Por ser visto como um homem que perseguia policiais e atrapalhava negócios escusos da polícia, Carlos Cerqueira foi perseguido pela própria instituição. Tendo feito muitos inimigos na alta cúpula policial.

Em 1999, o coronel, já reformado, participava de uma reunião da ONG de direitos humanos da qual fazia parte, no edifício Magnus, na cidade do Rio, Cerqueira foi assassinado no saguão do prédio onde trabalha o advogado Nilo Batista, ex-vice-governador.

Duas horas depois, a polícia dava o crime como praticamente elucidado. O assassino seria o sargento Sidney Rodrigues, da PM, atingido, em seguida ao crime, por um tiro na nuca, supostamente disparado por um segurança da terma Aeroporto, que funciona no térreo do edifício.

Cerqueira chegou ao prédio (avenida Beira Mar, 216, centro) pouco depois das 16h. Ele trabalhava com Nilo Batista no Instituto Carioca de Criminologia, uma ONG (organização não-governamental).

Testemunhas contaram aos policiais responsáveis pela investigação que o sargento atirou com um revólver assim que o coronel parou no saguão à espera do elevador.

Segundo as testemunhas, o tiro atraiu pelo menos dois seguranças da terma. O suspeito teria enfrentado os seguranças, mas foi baleado. Às 19h, ele estava sendo operado no hospital Souza Aguiar (centro).

Cerqueira morreu na hora. Há controvérsias sobre se ele esboçou reação. Debaixo do cadáver, o perito Oswaldo de Paiva Netto, do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, achou um coldre vazio. A arma não apareceu.

O perito encontrou uma cápsula de bala calibre 38 no corredor dos fundos do prédio. Encontrou ainda uma marca de tiro na parede do saguão, mas a cápsula não foi localizada.

Foi apreendido no local o revólver 38 que teria sido usado pelo assassino, A arma tinha quatro cápsulas deflagradas.

Pessoas que trabalhavam no prédio contaram ter ouvido cinco ou seis disparos. A polícia recebeu de um flanelinha (pessoa que toma conta de carros na rua) a informação de que um homem negro e alto teria fugido em correria logo após os tiros.

Retrato falado do suposto assassino coincide com o semblante do sargento, disse à noite o delegado Gilberto Ribeiro, da 5ª DP, delegacia responsável pela área onde o crime ocorreu.


Pai de sete filhos, Cerqueira estava aposentado na Polícia Militar, desde o fim do segundo governo de Brizola, em 94.

Estudioso da questão da violência, ele trabalhava como vice-presidente da ONG, que funciona no escritório de Nilo Batista.

Interdição

Depois do crime, o prédio foi interditado. Todas as pessoas que estavam nos escritórios de seus 13 andares foram cadastradas. Ninguém entrava ou saía do prédio sem autorização.

O coronel Valmir Brum, da Central de Inquéritos da Procuradoria Geral de Justiça, disse que vingança é a hipótese mais provável.

"Quem fez isso, fez para matar", afirmou ele.

Basquete

Subsecretário da Casa Militar no segundo governo Brizola, o coronel Heleno Barbosa disse que Cerqueira se encontraria no prédio com Nilo Batista.

Os dois seguiriam para uma partida de basquete, esporte preferido do coronel.

"O coronel Cerqueira era um homem íntegro, defensor dos direitos humanos e que instituiu o policiamento comunitário. Foi um crime bárbaro", afirmou Brum.

Fontes: wikifavelas   , folha.uol.com.br , historiaeparcerias.rj