Organização de Sasha Johnson, o Taking The Initiative Party, revelou que inglesa recebeu inúmeras ameaças de morte.
O partido Taking the Initiative revelou que Sasha Johnson, uma das principais ativistas do movimento Black Lives Matter no Reino Unido e que ficou conhecida como a Pantera Negra de Ofxord,
está internada em estado grave na UTI depois de ser "brutalmente atacada" na madrugada de domingo. O grupo alega que o ataque, ocorrido em Southwark, no sul de Londres, ocorreu após "inúmeras
ameaças de morte".
Sasha foi baleada na cabeça na madrugada de domingo perto de uma festa em Londres, quando estava ao lado de alguns de seus apoiadores, que insistem que o atentado foi "o
resultado de seu ativismo". No entanto, a Polícia Metropolitana insiste que não há nada que sugira que tenha sido um ataque direcionado ou que a vítima tenha recebido ameaças confiáveis
contra ela antes do tiroteio, por volta das três da manhã de ontem.
Os policiais disseram que a mulher foi levada a um hospital no sul de Londres com ferimentos fatais e abordaram testemunhas atrás de depoimentos
para descobrir quem teria efetuado o disparo. Detetives do Comando de Especialistas em Crimes do Met estão conduzindo investigações no local e na área ao redor e estão abordando diferentes
linhas de investigação.
Em depoimento, um representante da polícia afirmou: "Este foi um incidente chocante que deixou uma jovem com ferimentos muito graves. Nossos pensamentos estão com
sua família, que está recebendo apoio neste momento terrivelmente difícil". "Se você viu algo suspeito na área da Consort Road nas primeiras horas da manhã de domingo
ou se ouviu informações que desde então poderiam ajudar os detetives, é fundamental que você entre em contato", continuou o investigador.
Sasha, mãe de dois filhos e formada pela Oxford Brookes University, tem sido uma figura importante no movimento Black Lives Matter no Reino Unido e é membro do comitê
de liderança do Taking the Initiative Party. Em comunicado oficial, a organização escreveu: "Sasha sempre lutou ativamente pelos negros e pelas injustiças que cercam a comunidade negra, além
de ser membro do BLM e do Comitê de Liderança Executiva do Taking the Initiative Party. Sasha também é mãe de dois filhos e uma voz forte e poderosa para nosso povo e nossa comunidade. Vamos
todos nos reunir e orar por Sasha, orar por sua recuperação e mostrar nosso apoio a sua família e entes queridos".
Uma garota em um parque em São Paulo nesta quinta-feira. Mais da metade dos estupros no Brasil são contra menores de 13 anos. LELA BELTRÃ
Reportagem em áudio no final da pagina:
Mais
de 5.300 menores de 13 anos no Brasil denunciaram abusos sexuais em 2019. A
ponta do iceberg, pois considera apenas o que chega aos ouvidos da polícia
Geralmente são notícias
curtas na imprensa local. “Um homem e uma mulher foram presos pelo estupro de
uma menina de 13 anos. O delegado explica que o homem, casado com uma tia da
vítima, a estuprou durante seis anos. Os fatos eram do conhecimento da mãe e da
avó”. As prisões aconteceram na quarta-feira, 5 de maio, em Pinheiros, cidade
de 77.000 habitantes no Norte do Brasil. Nem a idade da vítima nem as circunstâncias
são algo excepcional. Informação anódina que narra crimes cotidianos. As estatísticas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) são chocantes. A
cada hora, quatro meninas menores de 13 anos são estupradas no Brasil, de
acordo com os números mais recentes. Mais da metade das 5.636 vítimas em 2019
tinha menos de 13 anos.
E isto é apenas a ponta
do iceberg, pois considera apenas o que chega aos ouvidos da polícia ou dos
serviços de saúde. “A violência sexual contra crianças está envolvida por um
pacto de silêncio”, enfatiza Márcia Bonifácio, chefe de uma equipe de
psicólogos e psicopedagogos da Prefeitura Municipal de São Paulo que apoia as
escolas quando surge um aluno problemático. Seu comportamento muitas vezes
esconde que é vítima de violência sexual ou de algum outro tipo.
Três brasileiras, a
educadora Bonifácio, a promotora Renata Rivitti e a diretora do Instituto Liberta,
Luciana Temer, usam sua vasta experiência para ajudar a entender os contornos
desse crime tão arraigado nesta cultura patriarcal e machista repleta de tabus
que, ao mesmo tempo, promove a sexualização precoce. “É um círculo muito
perverso com poucos finais felizes”, diz Bonifácio.
A vítima pode ser uma
menina de quatro anos que se masturba quatro vezes ao dia na aula, uma garota
de 10 anos que começa a mostrar a figura de uma mulher grávida, um menino de
sete anos que obriga seus colegas a fazer sexo oral, uma adolescente aplicada e
retraída que aparece com um olho roxo e oferece explicações pouco credíveis...
As vítimas não seguem um padrão. Os agressores sim: “Não tenho notícias de
nenhum caso em que a agressão tenha sido perpetrada por um estranho”, diz
Bonifácio. Geralmente pertence ao entorno familiar. O pai, o padrasto, irmãos
mais velhos, tios, avós, amigos da família...
Aqueles que combatem a
violência sexual contra as crianças insistem em como ela é democrática. No muito desigual Brasil, não diferencia raças ou classe social. A Unicef estima
que 120 milhões de mulheres tiveram um contato sexual indesejado antes dos 20
anos.
O Código Penal Brasileiro considera estupro de pessoa vulnerável manter relações carnais ou
praticar qualquer ato libidinoso com menor de 14 anos. As agressões podem
começar muito cedo e durar muitos anos. Não é rara a cumplicidade da mãe ou de
outros parentes, nem que a vítima seja responsabilizada por destruir a família
ou deixá-la sem amparo quando o agressor é quem traz o dinheiro para casa.
Costuma ser um processo in crescendo, no qual os abusos são cada vez mais
invasivos, mas sutis. Muitas vezes não deixam marcas.
Márcia Andrea Bonifácio
lidera uma equipe de apoio às escolas que detectam casos de violência sexual.
LELA BELTRÃO
“Quando têm entre zero e
seis anos, as vítimas têm pouco repertório, podem até perceber isso como uma
brincadeira, como uma demonstração de carinho, sentem prazer, não têm
parâmetros e é muito comum o agressor exigir que guardem o segredo”, explica a
promotora Rivitti. Elas são pequenas demais para distinguir o que é certo e o
que não é. Uma dificuldade que não depende apenas da idade. Bonifácio, cuja
equipe se chama Núcleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem, lembra o
caso de uma adolescente de 13 anos de uma família evangélica que descobriu em
uma aula de ciências que aquilo que o pai fazia com ela desde que com oito
menstruou pela primeira vez era sexo. Aquela garota não tinha televisão,
celular ou internet. Por isso, diz a promotora, as aulas de educação sexual são
tão importantes.
Os casos mais graves vêm
à tona em um hospital
Detectar o abuso é o primeiro passo. Quando são pequenos, geralmente se descobre pelo comportamento
na escola. Se forem mais velhos, contam a alguém de confiança. Os casos mais
graves vêm à tona em um hospital.
Descobrir o abuso não é
fácil, proteger a vítima sem minimizá-la, tampouco. E perseguir o crime, menos
ainda. A promotora Rivitti afirma que levar a vítima para um abrigo deve ser o
último recurso. Grande é o risco do que chamam de violência institucional. Se
depois de peregrinar por diferentes serviços para repetir seu primeiro relato
perante o conselho tutelar, a polícia, o hospital, submetendo-se a uma
avalanche de perguntas e um minucioso exame pericial, a menina acaba longe de
seus parentes, de seu bairro, de sua escola e de seus amigos, ela se culpa. Diz
‘minha boca está amaldiçoada, eu falei e me castigaram’.” Algumas se desmentem
porque o preço que pagam por revelar o abuso não lhes compensa.
“Temos que dar
informações às vítimas para que entendam o que é o abuso, para que saibam
relatá-lo e temos que dar crédito ao que dizem”, insiste a promotora Rivitti.
Isso é um começo. Depois tentam identificar um membro da família para proteger
a menina em casa e afastar o estuprador. Se ele é fonte de renda, tentam buscar
ajuda financeira.
E a punição aos
agressores? Conseguir um caso suficientemente sólido para ser levado ao juiz é
outra grande dificuldade. Geralmente é a palavra da criança contra o adulto. O
pior pesadelo de quem combate o estupro infantil é que o tribunal absolva o
acusado. “Não podemos entregar o cordeiro ao lobo com aval judicial”, alerta a
promotora.
Apesar da complexidade
do desafio, cada uma das três lutas em uma frente para que na próxima hora
quatro brasileiras menores de 13 anos não sejam estupradas. Temer o faz à frente
do Instituto Liberta, com documentários como Um crime entre nós, com o qual
busca sensibilizar, romper “o círculo perverso da normalização do abuso”. Entre
os recrutados para a missão, um dos homens mais famosos do Brasil, o
apresentador da Rede Globo Luciano Huck, cujo nome é citado como candidato à
presidência.
A promotora Rivitti
tenta replicar no Estado de São Paulo o modelo que criou em Jacareí, cidade de
235.000 habitantes do interior, onde através da coordenação dos serviços
educacionais, sociais e de saúde conseguiu proteger melhor as vítimas, o que
levou a mais denúncias, menores testemunhas em julgamentos e mais condenações.
Ela trabalha com uma rede de 70 outros promotores.
Com as escolas fechadas
durante meses devido à pandemia, a equipe liderada por Bonifácio abriu novos
canais para os alunos lançarem um SOS. Criou um site que canalizou as denúncias
de 200 casos de violência em nove meses. Destes, 56 eram de violência sexual.
Onze estados não
fornecem as informações das vítimas das duas polícias. Mesmo entre os que
coletam os números, há vários casos de ‘raça não informada’. Dados divulgados
revelam que quase 4 em cada 5 mortos são negros.
Os estados brasileiros
não sabem ou não informam a raça de mais de 1/3 das pessoas mortas pela polícia
em 2020. Ao menos 11 unidades da federação não passam nenhum tipo de informação
sobre a raça/cor da pele das vítimas das duas corporações (polícias Militar e
Civil). Mesmo entre os que coletam e disponibilizam os dados, há vários casos
de “raça não informada”.
Considerando apenas os
casos em que a raça é divulgada, os números revelam que 78% dos mortos pelas
polícias são negros.
É o que mostra um
levantamento exclusivo feito pelo G1 dentro do Monitor da Violência, uma
parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Núcleo de Estudos da
Violência da USP.
Falta transparência na divulgação da raça de mortos pela polícia — Foto: Guilherme /G1
Os pedidos foram feitos
para as secretarias da Segurança Pública dos estados (e diretamente para as
corporações em alguns casos) por meio da Lei de Acesso à Informação e das
assessorias de imprensa. Foram solicitados os casos de “confrontos com civis ou
lesões não naturais com intencionalidade” envolvendo policiais na ativa.
Dez estados, porém, não
divulgam as mortes em confronto policial por raça, informação que também foi solicitada
pelo G1. Assim, com Goiás, são 11 os estados que não divulgam as informações
raciais de forma completa (de ambas as polícias). Eram 12 no último
levantamento, referente ao primeiro semestre do ano passado.
O levantamento mostra
que:
a raça de 2.064 das
5.660 pessoas mortas pela polícia em 2020 não é conhecida, ou seja, 36% do
total
11 estados não divulgam
os dados de raça das vítimas de ambas as polícias
das 3.596 vítimas para
as quais há a informação da raça, 2.815 são negras (78%)
Acre e Roraima são os
únicos estados que informam a raça de todas as vítimas mortas no ano
mesmo entre os estados
que coletam os dados, 1.013 vítimas aparecem como raça “não informada” ou
“desconhecida”
Falta de transparência
Para Felipe Freitas,
pesquisador do Grupo de Pesquisa em Criminologia da Universidade Estadual de
Feira de Santana, a falta de informações impede a construção de políticas
públicas democráticas na área da segurança.
“Nas áreas da saúde e da
educação, por exemplo, só foi possível avançar em uma agenda de enfrentamento
ao racismo à medida em que se qualificaram os instrumentos de registro das
informações, que permitiram identificar a desigualdade racial”, compara.
Além da não divulgação
dos dados, a falta de padronização chama a atenção. Há casos em que “albino”
foi considerado uma raça, por exemplo, sendo que o albinismo é uma doença, e
não uma categoria racial.
A referência é a
classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que
trabalha com as seguintes opções: branca, preta, parda, indígena ou amarela. Os
pardos e pretos compõem os negros.
Para superar essas
dificuldades, Freitas aponta que um dos caminhos é treinar as equipes da área
da segurança pública para perguntar e preencher a informação sobre sobre
raça/cor, assim como ocorreu nos serviços públicos de saúde.
“A área da saúde passou
quase dez anos investindo em formação para que eles aprendessem a, no
atendimento da atenção básica, perguntar qual a raça/cor dos pacientes. É
preciso desenvolver o processo de formação, corrigir os sistemas para não
permitir que se avance sem preencher essa informação e retirar as categorias
ignorado ou ‘não quis declarar’, que criam uma limitação estatística
gigantesca”, exemplifica.
Não houve nenhum caso
enquadrado como “indígena”, por exemplo, no levantamento do G1. Isso não quer
dizer que nenhuma pessoa indígena foi, de fato, morta pela polícia. Como não
existe uma padronização oficial de preenchimento, elas podem ter sido
categorizadas como pardas ou podem constar da categoria “não informado”.
Manifestantes erguem a bandeira do Black Lives Matter — Foto: Kerem Yucel/AFP
Por que a polícia mata
mais negros?
Para Felipe Feitas, o
racismo estrutural explica por que a polícia mata mais pessoas pretas e pardas.
“O peso das representações negativas e dos estereótipos em relação às pessoas
negras produz socialmente essa autorização para matá-las”, afirma.
No entanto, há questões
técnicas, relacionadas à dinâmica entre a polícia e o Judiciário, que
influenciam essa seletividade, diz.
“O modelo de policiamento brasileiro é
ostensivo, de grandes operações e de flagrante. E a atuação do policial na rua
é muito influenciada pelas práticas discriminatórias que estão presentes na
sociedade. Assim, há um alto grau de discricionariedade no contato com a
população. E o Judiciário é muito frágil em estabelecer balizas para a ação
policial”, explica Freitas.
Negros são 78% dos mortos pelas polícias no Brasil em 2020. — Foto: Elcio Horiuchi/G1
A diretora da Anistia
Internacional, Jurema Werneck, também aponta a responsabilidade do Judiciário e
do Executivo, principalmente dos governadores, nos assassinatos de negros
cometidos pelos agentes de estado.
“Não é só matar, é
deixar matar. O racismo na administração do estado também está contribuindo
para esse quadro”, afirma Jurema. “E esconder informação é uma estratégia para
continuar permitindo essa violação profunda dos direitos humanos das pessoas
negras no Brasil."
Como parte da solução,
Felipe Freitas aponta que, mais do que focar nas polícias, a sociedade civil
precisa pressionar outras instâncias de poder – o Ministério Público, por
exemplo, tem a função constitucional de controle externo das polícias.
“E não só para pensar se
o policial que age abusivamente está sendo punido ou não, mas que não se valide
o produto da ação policial que não é produzida legalmente. Isso é uma forma de
estimular uma conduta policial dentro da legalidade e, ao mesmo tempo, reprimir
a ação policial fora da legalidade”, diz Freitas.
Morte de George Floyd
Discussões sobre racismo
e raça ganharam destaque em todo o mundo capitaneadas principalmente pela onda
de protestos que tomou os Estados Unidos após a morte do ex-segurança negro
George Floyd por um policial em Minneapolis em 25 de maio do ano passado.
Manifestante segura cartaz com retrato de George Floyd durante protesto em Nova York — Foto: Angela Weiss/AFP
O americano morreu
asfixiado após ter o pescoço prensado pelo joelho do policial Derek Chauvin por
8 minutos e 46 segundos. Um vídeo que mostra o momento da sua morte circulou
pela internet, aumentando a visibilidade do caso e gerando indignação. Nos dias
seguintes, diversas cidades do país registraram protestos por conta da
violência policial cometida contra a população negra. Os atos ganharam o mundo
e ocorreram também no Brasil.
Os estados que não
divulgam as informações de raça têm explicações distintas para a falta de
transparência.
No Amazonas, por
exemplo, a Secretaria da Segurança Pública diz apenas que “os dados não são
coletados com esse detalhamento”.
Já em Minas Gerais, o
governo diz que “para elaboração dos dados são necessários trabalhos laboriosos
de análise, consolidação e tratamento” e, por isso, não tem condição de passar
as informações referentes à Polícia Militar.
No Pará, a justificativa
é que “a grande maioria [dos dados] não foi informada no momento do
preenchimento do boletim de ocorrência”. O estado, porém, não diz a raça de
nenhuma das vítimas.
O Núcleo de Análise
Criminal e Estatística da Secretaria da Segurança da Paraíba, por sua vez, diz
que, do mesmo modo como é feito pelo IBGE, o método de captação do dado de
raça/cor é a “auto declaração”. “Porém, como isso não é possível para as pessoas
mortas, na verificação estatística deste quesito utiliza-se o registro da
classificação inserida na Declaração de Óbito que compõe o Sistema de
Informação de Mortalidade do Datasus.”
“Esse é o documento
oficial, muito mais seguro e apropriado do que uma informação de um parente ou
de um policial que visualiza o corpo. Em razão disso, como se utiliza outra
fonte de dados para a verificação do quesito raça/cor, não é possível
desagregar esta variável para as outras classificações do banco de informações
oriundas das polícias utilizado pelo núcleo, a exemplo dos inquéritos
policiais, de onde vêm as informações para classificar o CVLI como feminicídio,
latrocínio, confronto policial, entre outros”, diz a secretaria.
O coronel Carlos Cerqueira foi o policial negro que tentou humanizar a Polícia Militar do Rio de Janeiro e acabou assassinado em um crime até hoje polêmico.
Nos anos 80, o coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira já tinha pelo menos duas décadas de trabalho
policial. Ele foi nomeado pelo governador Leonel Brizola para ocupar o cargo de
Secretário Chefe de Polícia Militar, órgão recém-criado pelo então governador
do Rio de Janeiro, em 1983.
Por ser visto como um
homem que perseguia policiais e atrapalhava negócios escusos da polícia, Carlos
Cerqueira foi perseguido pela própria instituição. Tendo feito muitos inimigos
na alta cúpula policial.
Em 1999, o coronel, já
reformado, participava de uma reunião da ONG de direitos humanos da qual fazia
parte, no edifício Magnus, na cidade do Rio, Cerqueira foi assassinado no
saguão do prédio onde trabalha o advogado Nilo Batista, ex-vice-governador.
Duas horas depois, a
polícia dava o crime como praticamente elucidado. O assassino seria o sargento
Sidney Rodrigues, da PM, atingido, em seguida ao crime, por um tiro na nuca,
supostamente disparado por um segurança da terma Aeroporto, que funciona no
térreo do edifício.
Cerqueira chegou ao
prédio (avenida Beira Mar, 216, centro) pouco depois das 16h. Ele trabalhava
com Nilo Batista no Instituto Carioca de Criminologia, uma ONG (organização
não-governamental).
Testemunhas contaram aos
policiais responsáveis pela investigação que o sargento atirou com um revólver
assim que o coronel parou no saguão à espera do elevador.
Segundo as testemunhas,
o tiro atraiu pelo menos dois seguranças da terma. O suspeito teria enfrentado
os seguranças, mas foi baleado. Às 19h, ele estava sendo operado no hospital
Souza Aguiar (centro).
Cerqueira morreu na
hora. Há controvérsias sobre se ele esboçou reação. Debaixo do cadáver, o
perito Oswaldo de Paiva Netto, do Instituto de Criminalística Carlos Éboli,
achou um coldre vazio. A arma não apareceu.
O perito encontrou uma
cápsula de bala calibre 38 no corredor dos fundos do prédio. Encontrou ainda
uma marca de tiro na parede do saguão, mas a cápsula não foi localizada.
Foi apreendido no local
o revólver 38 que teria sido usado pelo assassino, A arma tinha quatro cápsulas
deflagradas.
Pessoas que trabalhavam
no prédio contaram ter ouvido cinco ou seis disparos. A polícia recebeu de um
flanelinha (pessoa que toma conta de carros na rua) a informação de que um
homem negro e alto teria fugido em correria logo após os tiros.
Retrato falado do
suposto assassino coincide com o semblante do sargento, disse à noite o
delegado Gilberto Ribeiro, da 5ª DP, delegacia responsável pela área onde o
crime ocorreu.
Pai de sete filhos,
Cerqueira estava aposentado na Polícia Militar, desde o fim do segundo governo
de Brizola, em 94.
Estudioso da questão da
violência, ele trabalhava como vice-presidente da ONG, que funciona no
escritório de Nilo Batista.
Interdição
Depois do crime, o
prédio foi interditado. Todas as pessoas que estavam nos escritórios de seus 13
andares foram cadastradas. Ninguém entrava ou saía do prédio sem autorização.
O coronel Valmir Brum,
da Central de Inquéritos da Procuradoria Geral de Justiça, disse que vingança é
a hipótese mais provável.
"Quem fez isso, fez
para matar", afirmou ele.
Basquete
Subsecretário da Casa
Militar no segundo governo Brizola, o coronel Heleno Barbosa disse que
Cerqueira se encontraria no prédio com Nilo Batista.
Os dois seguiriam para
uma partida de basquete, esporte preferido do coronel.
"O coronel
Cerqueira era um homem íntegro, defensor dos direitos humanos e que instituiu o
policiamento comunitário. Foi um crime bárbaro", afirmou Brum.
Essa foi a frase dita
por seu Antônio Correia no dia 02 de março de 2020, durante uma reunião da SDR
(Secretaria de Desenvolvimento Rural), em Salvador.
Na ocasião, seu Antônio ,Koinonia e outras instituições debateram sobre a gravidade do conflito de terra
que ele estava envolvido em Camamu, e que já vinha se arrastando desde 2014. E
como previu naquele dia, DOIS MESES depois, ele foi morto com 3 tiros, dentro
de sua casa.
O conflito se deu com
pessoas da comunidade do Varjão, referente ao uso de uma casa de farinha que
está localizada numa área da comunidade quilombola do Barroso.
Essa área era da família
de seu Antônio e foi doada para a associação para ser de uso coletivo da
comunidade, conforme explicamos em uma matéria publicada no site OQ, e que pode
ser lida no link: bityli.com/5AT5D.
Hoje faz um ano que seu
Antônio foi assassinado, e a morosidade da justiça ainda não deu conta de punir
os assassinos e responder para a comunidade quem são eles e o motivo do
assassinato.
Ontem e hoje publicamos
vídeos dos amigos e familiares do seu Antônio, que vieram a público clamar por
justiça e pedir pela punição dos culpados.
O assassinato de seu
Antônio, assim como o da vereadora #MarieleFranco, é um dos muitos casos de
assassinato de líderes comunitários e representantes do povo que estão sem
resposta. Não podemos deixar esses crimes impunes, e é por isso que Koinonia se
junta à comunidade de Camamu, ao povo do Quilombo do Barroso e pede por
justiça.
Nós queremos saber: QUEM
MATOU SEU ANTÔNIO CORREIA?