A primeira bancada negra da história de Porto Alegre criou a Frente para articular políticas e ações antirracistas
Aprovada por unanimidade
em fevereiro deste ano, a Frente Parlamentar Antirracista foi formalizada nesta
quinta-feira (29). Construída por toda a bancada negra, a coordenação da Frente
será dividida pelas vereadoras Karen Santos (PSOL), Bruna Rodrigues (PCdoB),
Daiana Santos (PCdoB), Reginete Bispo (PT) e o vereador Matheus Gomes (PSOL).
De acordo com os parlamentares, ela será o espaço unificado da bancada negra e
dos vereadores solidários à causa negra em Porto Alegre, com o objetivo de
articular políticas e ações antirracistas.
O ano de 2020, para além
do início da pandemia, foi o ano em que reverberou pelo mundo que "vidas
negras importam". A morte do estadunidense George Floyd e, posteriormente,
o assassinato João Alberto Silveira Freitas, em Porto Alegre, fizeram com que,
no meio do isolamento social, manifestantes saíssem às ruas dizendo basta ao
racismo e à morte do povo negro. Levante que teve reflexo nas urnas da capital
gaúcha, que elegeu em novembro sua primeira bancada negra.
Desde então, os cinco
parlamentares vêm trabalhando e denunciando ações racistas como a ocorrida no
dia 21 de abril, em que manifestantes direitistas usaram um carrasco e um
boneco enforcado, em alusão à Ku Klux Klan, organização racista, antissemita,
anticatólica e anticomunista fundada no século 19 no Sul dos Estados Unidos.
Neste contexto, a Frente Parlamentar Antirracista se torna mais um importante
passo, apontam os parlamentares.
“A criação da Frente foi
uma das primeira ações propostas pela nossa bancada, por representar essa
importância em nossas vidas, na vida de cada um que constitui a Bancada Negra e
de cada mulher e homem negro que nos ajudou a chegar até aqui”, aponta Bruna
Rodrigues (PCdoB).
A vereadora Daiana
Santos (PCdoB) afirma que a conquista do espaço no Legislativo da Capital é uma
oportunidade "para politizar absolutamente tudo". Segundo ela,
"é assim que vamos ter a certeza de que essa construção real de espaços
não será passageira, não só pela eleição desses cinco vereadores negros que já
estão na história dessa cidade, mas que poderemos construir o ganho de
consciência e o protagonismo do nosso povo preto, algo que vai seguir
mobilizando e reverberando por anos”.
Segundo Bruna Rodrigues, a intenção é que a Frente seja um espaço de debate, mas, essencialmente, de criação de políticas públicas que dialoguem com as necessidades da população negra de Porto Alegre. “Como mulher negra, a minha luta se construiu a partir dessa identidade, dessa vivência, e na Câmara de Vereadores é urgente não só o lavante dessa pauta, mas a utilização dela como base fundamental para o exercício político. Ainda lutamos para existir com dignidade e isso faz com que tenhamos a necessidade de construir instrumentos que deem suporte a essa construção. Ocupamos este espaço e queremos fazer dele um instrumento potente de ampliação de vozes e de combate ao racismo”, afirma.
Vereadora em exercício e
representando o primeiro mandato coletivo da Capital, Reginete Bispo (PT)
destaca que a cidade de Porto Alegre é uma das mais segregadas do país. Ela
chama atenção para as mobilizações no último ano. “Esse tema mobilizou o mundo.
Em plena a pandemia, quando o mundo estava em isolamento, o isolamento foi
quebrado porque as pessoas foram às ruas dizer que vidas negras importam. Isso
acontece porque o racismo contra as pessoas negras, e aqui no Brasil contra as
pessoas negras e indígenas, assumiu uma proporção insuportável, as pessoas
estão sendo mortas, o racismo vem se apresentado em suas mais diversas formas”,
pontua.
Neste contexto,
complementa Reginete, "quando o ódio racial cresce de uma maneira
gigantesca e está naturalizado na fala e nos atos das pessoas, especialmente de
alguns governantes, como por exemplo o nosso presidente da República, a Frente
tem uma importância muito grande”, finaliza.
Conforme destaca o
vereador Matheus Gomes (PSOL), o combate ao racismo será pauta transversal no
trabalho da Frente, ou seja, do orçamento da cidade ao combate a pandemia.
"Quando o IBGE diz que Porto Alegre é a capital brasileira mais segregada
racialmente, fala do acesso à educação, saúde, de renda e trabalho, expectativa
de vida, por isso, iremos dialogar sobre temas concretos da vida do povo negro e
de periferia", afirma.
Matheus complementado
que a constituição da Frente Parlamentar Antirracista consolida a novidade das
eleições de 2020. “Se nos últimos quatro pleitos, apenas dois vereadores negros
foram eleitos na primeira chamada, em uma eleição foram cinco vereadores,
expressando o avanço da representação política negra no ano das maiores
manifestações antirracistas da história”, conclui.
“Ações como o lançamento
da Frente Antirracista me trazem esperança. Faz com que possamos olhar para o
futuro e compreender que existe uma possibilidade real de construção de algo
que é diferente do que sempre nos foi apresentado. A existência dessa frente
simboliza aquilo que eu, Laura, Reginete, Karen, Bruna e Matheus desejamos e
lutamos: um futuro igualitário, pensando nessa construção de possibilidades
reais de ascensão do nosso povo, da classe trabalhadora, que sempre correu
atrás. É um movimento necessário, quando nosso povo está sofrendo nesse período
tão duro, onde as desigualdades se acentuam”, finaliza Daiana Santos.
Conforme destaca a
bancada, o espaço é aberto para participação de todos vereadores não-negros e
servirá para formular políticas públicas para a capital gaúcha e articular
demandas do movimento social negro na Câmara. Na primeira reunião, participaram
mais de 40 entidades e coletivos negros de Porto Alegre, como o Movimento Negro
Unificado, a União de Negros pela Igualdade (Unegro) e o Clube Satélite
Prontidão.
Fabiana Reinholz Brasil de Fato | Porto Alegre | 30 de Abril de 2021 às 16:24