Movimentando o Verbo Negro.
quinta-feira, 13 de maio de 2021
O CANDOMBLÉ E OS PRETOS VEHOS
Dandara: 133 anos de falsa abolição
Arquivo Frente Brasil Popular MG *Dandara Tonantzin é pedagoga, mestranda em educação e vereadora pelo PT em Uberlândia -MG
A história oficial nos
conta que no dia 13 de maio de 1888 a “benevolente” princesa Isabel assinou a
Lei Áurea, salvando o povo negro dos horrores da escravidão. O que não consta
nos livros tradicionais é que a abolição foi fruto de muita luta de nossos antepassados,
que resistiram com fugas organizadas dos cativeiros, rebeliões, quilombos e
lutas abolicionistas. De salvadora a princesa branca não teve nada; a lei foi
assinada por pressão econômica internacional inglesa que desde 1845 proibia o
tráfico negreiro.
Cerca de 4,8 milhões de
africanos foram sequestrados de suas famílias e encarcerados em navios
tumbeiros para o Brasil. O trajeto era desumano e a vida dos sobreviventes era
rodeada de perversidade. Latifúndios eram campos de concentração onde pessoas
escravizadas eram tratadas pior que animais de carga. Apesar de tanta dor,
sobrevivemos e construímos esse país à sangue e suor. A contribuição que demos
para a construção da pátria ainda é negada. Ainda aparecemos nos livros de
história somente nas páginas que remetem ao crime da escravidão.
Somos bisnetos (as) de
guerreiros e guerreiras, que saíram da escravidão sem reparação alguma, sem
direitos à terra, à educação ou moradia. Sem perspectivas, o povo negro começou
a habitar as periferias ao redor dos centros urbanos que se formavam. No dia
14, após a lei de abolição, o que restou para nós?
Por isso hoje não
comemoramos a falsa abolição, chancelada pelo viés branco. Hoje exigimos
respeito e igualdade, mesmo que tardia. A escravidão deixou marcas na nossa história.
No momento em que nascia o Brasil, a escravidão era mais do que somente um
modelo econômico, era um sistema político, cultural, social, que constituiu
valores, que organizou geopoliticamente as cidades, determinou lugares e não
lugares. O preconceito racial se enraizou de tal maneira em nossa sociedade que
o racismo se tornou estrutural, presente nos discursos de ódio da internet, nas
piadinhas sobre o cabelo ou traços afros, na ausência de pessoas negras em
cargos de liderança e espaços de poder.
Hoje, negros são 79,1%
das vítimas de intervenções policiais que resultam em morte, de acordo com o
Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2020. Somos também 66,7% dos
encarcerados nas prisões brasileiras. Durante a pandemia de Covid-19 morreram
40% mais pretos e pardos do que brancos.
A chacina de
Jacarezinho, no dia 06 de maio, nos lembra que os fantasmas da escravidão
seguem os passos de cada pessoa negra nesse país: Na desvalorização, no medo,
na perseguição, na fome, nos estigmas, na bala perdida que sempre encontra o
corpo negro. Nossa cor de pele é alvo. Nossa cultura, nossos ritmos, nossa fé.
No dia 13 de maio de
2021 são milhares de mães pretas que velam seus filhos assassinados,
desaparecidos, crimes que nunca tiveram justiça. Miguel Santana, Clayton da
Silva Freitas Lima, Cláudia Silva Ferreira, Ray Pinto Faria, Jenifer Gomes e
tantos mais. Se tornaram vítimas de sistema cruel, onde o preto é suspeito e
nossas lágrimas não importam.
Temos pressa para que as
coisas mudem. Já são 133 anos de um grito preso na garganta. Diferente do que
canta o hino nacional, o sol da liberdade não raiou para todos (as) nós. É
cansativo ainda lutarmos pela quebra das correntes do racismo.
Ocupamos espaços
importes, por exemplo, sou uma mulher negra na Câmara de Vereadores de
Uberlândia. Olho para o lado e vejo os herdeiros da casa grande até hoje no
poder. Não toleram a nossa presença, incomodamos. Nada para o povo preto foi de
graça, ou por acaso. A libertação nunca bateu na nossa porta. Tudo foi, tudo
será: LUTA.
quarta-feira, 12 de maio de 2021
CHEFE DA PM-RJ CORONEL CARLOS CERQUEIRA, ASSASSINADO EM 1999 POR TENTAR HUMANIZAR A POLICIA MILITAR DO RIO DE JANEIRO.
O coronel Carlos Cerqueira foi o policial negro que tentou humanizar a Polícia Militar do Rio de Janeiro e acabou assassinado em um crime até hoje polêmico.
Nos anos 80, o coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira já tinha pelo menos duas décadas de trabalho
policial. Ele foi nomeado pelo governador Leonel Brizola para ocupar o cargo de
Secretário Chefe de Polícia Militar, órgão recém-criado pelo então governador
do Rio de Janeiro, em 1983.
Carlos Cerqueira era umdefensor dos direitos humanos e tinha um entendimento do crime como um produto social, fruto da pobreza e desigualdade. Defendia, desde a época de oficial,
que a polícia não deveria usar truculência e violência desmedida contra moradores
da periferia, pois nem todos ali eram bandidos. Braço direito de Brizola na
segurança, Cerqueira combateu maus policiais e grupos de extermínio durante os
anos 80 e início dos anos 90.
Por ser visto como um
homem que perseguia policiais e atrapalhava negócios escusos da polícia, Carlos
Cerqueira foi perseguido pela própria instituição. Tendo feito muitos inimigos
na alta cúpula policial.
Em 1999, o coronel, já
reformado, participava de uma reunião da ONG de direitos humanos da qual fazia
parte, no edifício Magnus, na cidade do Rio, Cerqueira foi assassinado no
saguão do prédio onde trabalha o advogado Nilo Batista, ex-vice-governador.
Duas horas depois, a
polícia dava o crime como praticamente elucidado. O assassino seria o sargento
Sidney Rodrigues, da PM, atingido, em seguida ao crime, por um tiro na nuca,
supostamente disparado por um segurança da terma Aeroporto, que funciona no
térreo do edifício.
Cerqueira chegou ao
prédio (avenida Beira Mar, 216, centro) pouco depois das 16h. Ele trabalhava
com Nilo Batista no Instituto Carioca de Criminologia, uma ONG (organização
não-governamental).
Testemunhas contaram aos
policiais responsáveis pela investigação que o sargento atirou com um revólver
assim que o coronel parou no saguão à espera do elevador.
Segundo as testemunhas,
o tiro atraiu pelo menos dois seguranças da terma. O suspeito teria enfrentado
os seguranças, mas foi baleado. Às 19h, ele estava sendo operado no hospital
Souza Aguiar (centro).
Cerqueira morreu na
hora. Há controvérsias sobre se ele esboçou reação. Debaixo do cadáver, o
perito Oswaldo de Paiva Netto, do Instituto de Criminalística Carlos Éboli,
achou um coldre vazio. A arma não apareceu.
O perito encontrou uma
cápsula de bala calibre 38 no corredor dos fundos do prédio. Encontrou ainda
uma marca de tiro na parede do saguão, mas a cápsula não foi localizada.
Foi apreendido no local
o revólver 38 que teria sido usado pelo assassino, A arma tinha quatro cápsulas
deflagradas.
Pessoas que trabalhavam
no prédio contaram ter ouvido cinco ou seis disparos. A polícia recebeu de um
flanelinha (pessoa que toma conta de carros na rua) a informação de que um
homem negro e alto teria fugido em correria logo após os tiros.
Retrato falado do
suposto assassino coincide com o semblante do sargento, disse à noite o
delegado Gilberto Ribeiro, da 5ª DP, delegacia responsável pela área onde o
crime ocorreu.
Pai de sete filhos, Cerqueira estava aposentado na Polícia Militar, desde o fim do segundo governo de Brizola, em 94.
Estudioso da questão da
violência, ele trabalhava como vice-presidente da ONG, que funciona no
escritório de Nilo Batista.
Interdição
Depois do crime, o
prédio foi interditado. Todas as pessoas que estavam nos escritórios de seus 13
andares foram cadastradas. Ninguém entrava ou saía do prédio sem autorização.
O coronel Valmir Brum,
da Central de Inquéritos da Procuradoria Geral de Justiça, disse que vingança é
a hipótese mais provável.
"Quem fez isso, fez
para matar", afirmou ele.
Basquete
Subsecretário da Casa
Militar no segundo governo Brizola, o coronel Heleno Barbosa disse que
Cerqueira se encontraria no prédio com Nilo Batista.
Os dois seguiriam para
uma partida de basquete, esporte preferido do coronel.
"O coronel
Cerqueira era um homem íntegro, defensor dos direitos humanos e que instituiu o
policiamento comunitário. Foi um crime bárbaro", afirmou Brum.
Fontes: wikifavelas , folha.uol.com.br , historiaeparcerias.rj
terça-feira, 11 de maio de 2021
"VÃO ME MATAR!"
Essa foi a frase dita
por seu Antônio Correia no dia 02 de março de 2020, durante uma reunião da SDR
(Secretaria de Desenvolvimento Rural), em Salvador.
Na ocasião, seu Antônio ,Koinonia e outras instituições debateram sobre a gravidade do conflito de terra
que ele estava envolvido em Camamu, e que já vinha se arrastando desde 2014. E
como previu naquele dia, DOIS MESES depois, ele foi morto com 3 tiros, dentro
de sua casa.
O conflito se deu com
pessoas da comunidade do Varjão, referente ao uso de uma casa de farinha que
está localizada numa área da comunidade quilombola do Barroso.
Essa área era da família
de seu Antônio e foi doada para a associação para ser de uso coletivo da
comunidade, conforme explicamos em uma matéria publicada no site OQ, e que pode
ser lida no link: bityli.com/5AT5D.
Hoje faz um ano que seu
Antônio foi assassinado, e a morosidade da justiça ainda não deu conta de punir
os assassinos e responder para a comunidade quem são eles e o motivo do
assassinato.
Ontem e hoje publicamos
vídeos dos amigos e familiares do seu Antônio, que vieram a público clamar por
justiça e pedir pela punição dos culpados.
O assassinato de seu
Antônio, assim como o da vereadora #MarieleFranco, é um dos muitos casos de
assassinato de líderes comunitários e representantes do povo que estão sem
resposta. Não podemos deixar esses crimes impunes, e é por isso que Koinonia se
junta à comunidade de Camamu, ao povo do Quilombo do Barroso e pede por
justiça.
Nós queremos saber: QUEM
MATOU SEU ANTÔNIO CORREIA?
segunda-feira, 10 de maio de 2021
GUARACY MINGARDI: “A POLÍCIA FEZ TUDO ERRADO NO JACAREZINHO. NOSSA LEGISLAÇÃO NÃO TEM PENA DE MORTE”
Manifestantes protestam contra o massacre no Jacarezinho, no Rio de Janeiro, em frente à Polícia Civil, na última sexta, 7 de maio.ANTONIO LACERDA / EFE
O ex-investigador e cientista político, que estuda há mais de duas décadas as polícias e a segurança pública no Brasil, diz que faltou inteligência à Polícia Civil. Ele defende investigação independente sobre o massacre.
O ex-investigador e
cientista político Guaracy Mingardi define a operação na favela do Jacarezinho,
na zona norte do Rio de Janeiro ―que deixou 28 mortos na última quinta-feira,
entre eles um policial que atuava na ação―, como um “morticínio”, que não
deveria ter acontecido caso a Polícia Civil agisse pautada pela investigação e
inteligência, e não pela lógica do confronto. Doutor em Ciência Política pela
Universidade de São Paulo (USP) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública, o ex-policial estuda organizações criminosas há mais de duas décadas e
destaca a militarização das polícias como um problema ao funcionamento da
instituição. “O tráfico se armou, a polícia foi se armando cada vez mais e a
população foi ficando cada vez mais aprisionada no meio deles.”
A operação Exceptis
tinha como objetivo cumprir 21 mandados de prisão contra investigados por
aliciar crianças e adolescentes para o tráfico de drogas no Jacarezinho, região
cujo narcotráfico é dominado pelo Comando Vermelho, e onde vivem cerca de
40.000 habitantes. Dos 21 investigados, três foram mortos e outros três presos.
Foram apreendidos seis fuzis, 16 pistolas, uma submetralhadora, 12 granadas e
uma escopeta calibre 12. Mas ao menos 13 pessoas mortas não eram investigados
na operação, que é considerada a mais letal da história do Rio e a segunda
maior chacina registrada no Estado. Há vários relatos de violações de direitos
humanos feitas por moradores do Jacarezinho. Mas a Polícia Civil nega ter
descumprido regras, critica o “ativismo judicial” dos detratores da ação e
insiste que todos os mortos eram criminosos, com exceção do agente.
O EL PAÍS entrevistou o
especialista em segurança pública neste sábado, por telefone. Na conversa,
Guaracy Mingardi ―que é autor do livro Tiras, Gansos e Trutas: cotidiano e
reforma na Polícia Civil―, apontou o que considera os principais erros
cometidos pela corporação.
Pergunta: Como avalia o
resultado da operação da última quinta na favela do Jacarezinho?
Resposta: Foi uma coisa
que não deveria ter acontecido. É o tipo de operação que não deve ocorrer,
porque virou uma guerra. Na verdade, o trabalho que deveria ser feito não era
esse. A Polícia Civil não está lá para fazer operação atirando; deve
investigar, ir atrás dos criminosos, cumprir os mandados de prisão, mas não
trocar inúmeros tiros em uma área urbanizada. Então foi uma coisa que começou
errada ―por ter sido uma operação desse tipo―, e continuou errada o tempo todo.
Inclusive, se não tivessem feito essa bobagem, e sim esperado para, aos poucos,
ir prendendo cada um deles não teria morrido um policial, nem ninguém.
P: Como podemos
qualificar esta ação?
R: O que aconteceu foi
uma chacina, um morticínio, uma tragédia. Estão falando que todos eram
criminosos, mas eu não vi. E mesmo que fossem criminosos, a nossa legislação
não tem pena de morte então não era para eles serem mortos, e sim presos.
Quando acontece algo desse porte, não se pode dizer outra coisa a não ser que
foi uma chacina, uma tragédia, e a polícia fez tudo errado.
P: Chama a atenção o
fato de a operação mais letal da história do Rio de Janeiro ter sido feita pela
Polícia Civil, cujo papel é investigar? O que levou a uma ação tão letal pela
instituição?
R: A Polícia Civil tem o
dever de cumprir os mandados de prisão. Eram 21 investigados por suspeita de
aliciar menores para o tráfico de drogas, motivo da entrada policial. Só que o
problema é a forma. Como a Polícia Civil se militarizou demais ―e isso em todo
o Brasil―está agindo através de operação, quis pegar todo mundo junto, e não
pega. Vários deles não deveriam nem estar lá, mas para você saber onde eles
estão precisa de investigação, um trabalho de inteligência muito bom. Quando se
faz uma operação dessas botando tanta gente e pega menos de um terço do que era
procurado, tem alguma coisa errada. A inteligência não foi tão boa, a
informação que chegou não foi boa. Para localizar pessoas, por exemplo, quando
teve uma série de guerras na Rocinha, depois de um certo tempo, um dos
principais criminosos foi preso pela Polícia Civil sem trocar um tiro fora da
Rocinha, porque ele estava se escondendo e através de investigações e prenderam
sem dar um tiro, é essa a ideia.
P: A Polícia Civil
afirma que a única execução foi a do policial André Frias, e que todas as
outras mortes foram para neutralizar os traficantes. Mas soube-se depois que
pelo menos 13 mortos nem sequer eram investigados naquela ação. Como vê isso?
R. Quando você entra
atirando não escolhe alvo. Acaba matando quem está reagindo, quem não tem nada a ver com nada. Não se pode fazer uma
guerra na área urbana, a polícia não existe para isso. Na guerra, você entende:
morre inocente e quem tem a ver, mas é uma guerra. Agora, o que aconteceu, não.
Era para ser feito a prisão de alguns criminosos, afinal, não conseguiram pegar
todos eles. Eles fizeram tudo isso para pegar pouca gente e mataram muitos, ou
seja, a ideia está toda errada. Eu sempre falo isso: quem faz operação é
médico, polícia não tem que fazer operação.
P: Em qual contexto acontece esta militarização das polícia e desde quando?
R: As do Rio começaram a
se militarizar antes, por conta do Comando Vermelho. Na época [final dos anos
1970] e depois, por conta de outras organizações criminosas (que eu não chamo
de facções), as polícias começaram a se armar muito. Primeiro a PM e depois a
Civil partiram para esse tipo de guerra. E por trás disso tudo está a ideia de
guerra contra às drogas, então você deixa a droga mais cara e na mão dos
criminosos, dos mais violentos possíveis, e não adianta nada. Você faz uma
guerra prolongada e nem consegue diminuir a droga circulando? Alguma coisa está
errada nessa política. Como eu disse, não é exclusivo do Rio de Janeiro,
acontece quase que no país todo, mas não em todos os Estados, essa
militarização da repressão ao tráfico, mas as cacas maiores dos últimos tempos
aconteceram lá.
O tráfico se armou, a
polícia foi se armando cada vez mais e a população fica aprisionada no meio
deles.
P: É possível dizer que
há um antes e depois do Comando Vermelho no que diz respeito à atuação das
polícias?
R: No Rio você sempre
teve aquele problema de dificuldade da polícia em subir o morro, mesmo antes
das organizações criminosas, já se tinha as quadrilhas, era difícil de chegar,
bem complicado. Quando o Comando Vermelho começou a tomar o espaço, como no
Santa Marta e na Cidade de Deus, ficou cada vez mais difícil para a polícia
chegar. Depois que os criminosos começaram a usar fuzil, a polícia também
começou a usá-los e foi evoluindo nisso. Cito uma bobagem carioca de fuzil, nas
palavras de Wilson Witzel (governador do Rio que sofreu impeachment por
irregularidades na área da Saúde), que é o seguinte: o tiro de precisão do
helicóptero não existe, por causa da trepidação não dá para dar tiro de
precisão. Não adianta ter um atirador muito bom que você não consegue. Essa é a
maior estupidez de todas, ou seja, para resumir: o tráfico se armou, foi
ficando cada vez mais armado e pesado, a polícia foi se armando cada vez mais e
ficando pesada. São dois lados muito preparados para trocar tiros, e a
população fica aprisionada no meio deles: da polícia e dos criminosos. Se não
pegarmos pesado agora para impedir, vai continuar a acontecer.
P: O que distingue as
atuações do Comando Vermelho e do Primeiro Comando da Capital (PCC), as maiores
organizações criminosas do Brasil, e como isso influencia no trabalho da
polícia?
R: O contexto histórico
do Rio de Janeiro, do armamento, da polícia que foi se militarizando e tem a
questão do Comando Vermelho, que o pessoal é mais porra louca mesmo, muito
diferente do PCC, por exemplo. O pessoal do PCC matar policiais? Precisa de
autorização lá de cima no PCC. Então, na verdade, o Comando Vermelho é cheio de
porra louca que fazem o que quer. Só que a polícia não pode ser cheia de porra
louca, a polícia é uma organização profissional e tem que agir
profissionalmente, essa é a diferença. Os criminosos não estão nem aí em troca
de tiros e atiram no meio da multidão. Eles não estão nem ligando se isso
ocorrer, agora, a polícia, tem que se importar com isso. A polícia está ali
para proteger a população, essa é a função dela.
P: A Organização das Nações Unidas pediu na sexta-feira que haja investigação independente para elucidar a chacina. Quem deveria conduzir as investigações deste episódio?
R: Eu sou favorável às
investigações independentes assim como sou favorável à Ouvidoria de polícia com
poder de investigar. Ouvidoria de polícia não constituída por policiais, mas
sim por pessoas que são contratadas pelo Estado e que verificam elas antes de
passar adiante. Mas aí é um caso que vai além de uma simples Ouvidoria de
polícia: é o caso de que vai ter que ter gente com poder. Na verdade, você
teria que ter provavelmente uma ação do Ministério Público, porque o MP pode
convocar pessoas para depor. Então isso deveria partir do Ministério Público.
E, mesmo que não fosse o MP, deveria ser gente com o poder de convocar pessoas
para depor. Não adianta você só ouvir a polícia ou só a população. Você tem que
ouvir todo mundo.
P: O Ministério Público
(MPRJ) acompanhou na sexta-feira a perícia nos corpos das pessoas mortas no
Instituto Médico Legal (IML) e diz que está fazendo uma investigação
independente sobre o caso.
R: Pelo menos o MP deu
um passo. O problema é que muitas vezes temos o Ministério Público muito
ligado, muito amigo da polícia. Tem que ser parceiro de trabalho, mas não
amigáveis demais. Quando o policial comete um erro, tem que ser
responsabilizado. Não é um erro de um policial, eu não estou culpando todo
mundo da operação. É o que aconteceu. Quem foram os reais culpados? Quem mandou
aquilo? Quem organizou aquilo? É necessário verificar se não houve execução,
porque uma coisa é matar criminoso em um tiroteio e a outra coisa é executar.
Quem deixou aquilo acontecer?
segunda-feira, 3 de maio de 2021
Em luta contra o racismo, Thierry Henry inspira boicote a redes sociais
O técnico Thierry Henry, do Montreal Impact, ajoelha-se em homenagem ao movimento Black Lives Matter em 16 de julho de 2020
Foto: Michael Reaves/Getty Images
Ex-jogador fechou contas nas redes depois de ataques racistas a jogadores; futebol inglês faz protesto neste fim de semana
Faz cinco semanas que
Thierry Henry excluiu suas contas nas redes sociais e que o ex-atacante do Arsenal
vem passando por uma série de emoções.
O agora técnico tomou a
decisão no final de março, após uma onda de abusos racistas online dirigidos a
jogadores de futebol negros e o que ele classifica como incapacidade das
empresas de mídia social de responsabilizar os usuários por suas ações.
Henry diz que não estar
no Instagram ou no Twitter nas últimas semanas tem sido "ótimo".
"No início, eu
estava com um humor meio estranho, digamos, e eu estava tipo: 'As pessoas não
estão percebendo o que está em jogo aqui e o problema que esta sociedade tem
agora'.”
"Mas eu estava
sempre falando e citando a força do grupo, e às vezes, quando você tem que
gritar algo sozinho, você se sente solitário - mas eu não estou falando de mim,
estou falando sobre as pessoas que foram atacadas, assediadas pela aparência,
pelo que acreditam, pela cor da pele, nas redes sociais.”
"Talvez se eu sair
das redes sociais, tomando uma posição pelas pessoas que talvez não tenham voz,
seja possível criar uma onda. As pessoas gostariam de saber por quê. Depois
disso, houve um pequeno período em que eu pensei: 'Bem, é uma pena que as
pessoas não estejam reagindo.'"
Apesar de o Twitter e o
Instagram - que é propriedade do Facebook - anunciarem recentemente medidas
para tentar combater o problema, os ataques racistas online contra jogadores de
futebol negros continuaram.
Quando Henry tomou pela
primeira vez a decisão de deletar suas contas nas redes sociais, o homem de 43
anos disse à CNN que esperava inspirar outras pessoas a se posicionarem contra
o abuso racista e o bullying online. Cinco semanas depois, suas ações
certamente surtiram o efeito desejado.
Nessa sexta-feira (30),
os clubes da Premier League, English Football League, Women's Super League e
Women's Championship, órgãos dirigentes e organizações como Kick It Out
iniciaram um apagão de três dias nas redes.
Algumas das maiores emissoras do Reino Unido, como Sky Sports e BT Sport, também participam do apagão, que terminará nesta segunda-feira (3).
“Se [saindo da mídia
social] pode causar um pequeno impacto e ter um impacto ... para isso, você
precisa da força do grupo”, diz Henry. "Então, quando vi que isso
aconteceu recentemente, fiquei realmente feliz, mas estava pensando em todas as
pessoas que esperavam por isso há muito tempo. É uma ótima ferramenta, como
falamos, mas as pessoas às vezes usam isso como uma arma.”
"Gosto do fato de
que as pessoas realmente percebem que, quando nos reunimos, é... poderoso.
Percebi que talvez o fato de eu vir desse meio pudesse criar uma pequena onda
na mídia e criou, fazendo com que as pessoas respondessem a algumas perguntas.
Quando vi o que começou a acontecer neste fim de semana, eu pensei: 'Ok, Ok, é
um começo, é um começo.’”
"Muitas pessoas
estão - não estou dizendo acordando porque todos estavam cientes disso - mas
agora falam alto sobre isso e têm a mesma energia que colocam na Super League.
Parece que estamos conseguindo ser corajosos para tentar fazer com que essas
grandes empresas respondam às perguntas que temos. E eu sei que não é fácil
também do lado deles, mas esse é o trabalho deles."
A posição das redes
sociais
Desde que o boicote foi
anunciado, o Twitter e o Facebook reiteraram o desejo de remover todos os tipos
de abusos das plataformas.
"Não queremos
abusos discriminatórios no Instagram ou no Facebook", disse um porta-voz
do Facebook à CNN. “Compartilhamos o objetivo de lidar com o problema e
responsabilizar as pessoas que o compartilham. Fazemos isso tomando medidas em
relação a conteúdos e contas que violam nossas regras e cooperando com as
autoridades policiais quando recebemos uma solicitação.”
"Estamos
comprometidos em combater o ódio e o racismo em nossa plataforma, mas também
sabemos que esses problemas são maiores do que nós, então esperamos continuar
nosso trabalho com parceiros da indústria para resolver o problema - tanto
online quanto offline."
Questionado pela CNN
sobre a ausência contínua de Henry de sua plataforma, um porta-voz do Twitter
disse: "O comportamento racista, o abuso e o assédio não têm absolutamente
nenhum lugar em nosso serviço. E ao lado de nossos parceiros no futebol,
condenamos o racismo em todas as suas formas.”
"Estamos firmes em
nosso compromisso de garantir que a conversa sobre futebol em nosso serviço seja
segura para os torcedores, jogadores e todos os envolvidos no jogo.”
“O racismo é uma questão
social profunda e complexa e todos têm um papel a desempenhar. Estamos
empenhados em fazer a nossa parte e continuar a trabalhar em estreita
colaboração com parceiros valiosos no futebol, governo e polícia, juntamente
com o grupo de trabalho convocado pela Kick It Out para identificar maneiras de
lidar com esse problema coletivamente - tanto online quanto fora da mídia
social. "
De acordo com o Twitter,
ele tentou entrar em contato com Henry e gostaria de ter a oportunidade de
falar com ele.
O Instagram esteve em
contato com o representante de Henry, antes de ele deixar a rede social e desde
então.
Henry disse à CNN que não falou diretamente com ninguém no Instagram, mas disse que a empresa entrou em contato com seus representantes. Henry recusou a oportunidade de se encontrar com alguém no Instagram, pois quer que a prioridade das empresas seja tomar medidas para acabar com os abusos.
“Temos tantas, tantas
discussões. Eu só quero ação. É isso. Sobre o que vamos falar? Me contando o
que [declaração] você acabou de divulgar?"
Henry diz que o blecaute
é uma iniciativa bem-vinda, mas adverte contra a complacência. Ele entende que
continuará a ser uma batalha difícil e admite que talvez nunca a veja se
concretizar, mas é inabalável em seu compromisso com a luta.
“[O que] o mundo do
futebol inglês está fazendo neste minuto e o que vai acontecer no fim de
semana, as pessoas me perguntam. E eu: 'É um começo.' Mas sim, temos uma voz.
Podemos realmente conscientizar as pessoas de nossa desaprovação e esperar que
as coisas mudem. Se você não fizer nada, nada mudará. Como eu sempre disse, se
você tentar fazer algo, poderá ter sucesso ou não, mas você está conscientizando
as pessoas e, ao longo do caminho, terá um impacto.”
"Talvez não este
ano, talvez não em dois anos, talvez não em três anos. Talvez não possamos ver,
mas você tem que fazer alguma coisa."
Organizações de mídia do
Reino Unido aderiram ao boicote às redes sociais neste fim de semana. A CNN
decidiu não aderir, mas acredita ter uma voz única para relatar esta campanha e
outras semelhantes. A CNN está empenhada em reportar questões de racismo e
assédio online onde quer que ocorram no mundo.
(Texto traduzido, clique
aqui para ler o original em inglês).
sábado, 1 de maio de 2021
BANCADA NEGRA FORMALIZA A FRENTE PARLAMENTAR ANTIRRACISTA EM PORTO ALEGRE
A primeira bancada negra da história de Porto Alegre criou a Frente para articular políticas e ações antirracistas
Aprovada por unanimidade
em fevereiro deste ano, a Frente Parlamentar Antirracista foi formalizada nesta
quinta-feira (29). Construída por toda a bancada negra, a coordenação da Frente
será dividida pelas vereadoras Karen Santos (PSOL), Bruna Rodrigues (PCdoB),
Daiana Santos (PCdoB), Reginete Bispo (PT) e o vereador Matheus Gomes (PSOL).
De acordo com os parlamentares, ela será o espaço unificado da bancada negra e
dos vereadores solidários à causa negra em Porto Alegre, com o objetivo de
articular políticas e ações antirracistas.
O ano de 2020, para além
do início da pandemia, foi o ano em que reverberou pelo mundo que "vidas
negras importam". A morte do estadunidense George Floyd e, posteriormente,
o assassinato João Alberto Silveira Freitas, em Porto Alegre, fizeram com que,
no meio do isolamento social, manifestantes saíssem às ruas dizendo basta ao
racismo e à morte do povo negro. Levante que teve reflexo nas urnas da capital
gaúcha, que elegeu em novembro sua primeira bancada negra.
Desde então, os cinco
parlamentares vêm trabalhando e denunciando ações racistas como a ocorrida no
dia 21 de abril, em que manifestantes direitistas usaram um carrasco e um
boneco enforcado, em alusão à Ku Klux Klan, organização racista, antissemita,
anticatólica e anticomunista fundada no século 19 no Sul dos Estados Unidos.
Neste contexto, a Frente Parlamentar Antirracista se torna mais um importante
passo, apontam os parlamentares.
“A criação da Frente foi
uma das primeira ações propostas pela nossa bancada, por representar essa
importância em nossas vidas, na vida de cada um que constitui a Bancada Negra e
de cada mulher e homem negro que nos ajudou a chegar até aqui”, aponta Bruna
Rodrigues (PCdoB).
A vereadora Daiana
Santos (PCdoB) afirma que a conquista do espaço no Legislativo da Capital é uma
oportunidade "para politizar absolutamente tudo". Segundo ela,
"é assim que vamos ter a certeza de que essa construção real de espaços
não será passageira, não só pela eleição desses cinco vereadores negros que já
estão na história dessa cidade, mas que poderemos construir o ganho de
consciência e o protagonismo do nosso povo preto, algo que vai seguir
mobilizando e reverberando por anos”.
Segundo Bruna Rodrigues, a intenção é que a Frente seja um espaço de debate, mas, essencialmente, de criação de políticas públicas que dialoguem com as necessidades da população negra de Porto Alegre. “Como mulher negra, a minha luta se construiu a partir dessa identidade, dessa vivência, e na Câmara de Vereadores é urgente não só o lavante dessa pauta, mas a utilização dela como base fundamental para o exercício político. Ainda lutamos para existir com dignidade e isso faz com que tenhamos a necessidade de construir instrumentos que deem suporte a essa construção. Ocupamos este espaço e queremos fazer dele um instrumento potente de ampliação de vozes e de combate ao racismo”, afirma.
Vereadora em exercício e
representando o primeiro mandato coletivo da Capital, Reginete Bispo (PT)
destaca que a cidade de Porto Alegre é uma das mais segregadas do país. Ela
chama atenção para as mobilizações no último ano. “Esse tema mobilizou o mundo.
Em plena a pandemia, quando o mundo estava em isolamento, o isolamento foi
quebrado porque as pessoas foram às ruas dizer que vidas negras importam. Isso
acontece porque o racismo contra as pessoas negras, e aqui no Brasil contra as
pessoas negras e indígenas, assumiu uma proporção insuportável, as pessoas
estão sendo mortas, o racismo vem se apresentado em suas mais diversas formas”,
pontua.
Neste contexto,
complementa Reginete, "quando o ódio racial cresce de uma maneira
gigantesca e está naturalizado na fala e nos atos das pessoas, especialmente de
alguns governantes, como por exemplo o nosso presidente da República, a Frente
tem uma importância muito grande”, finaliza.
Conforme destaca o
vereador Matheus Gomes (PSOL), o combate ao racismo será pauta transversal no
trabalho da Frente, ou seja, do orçamento da cidade ao combate a pandemia.
"Quando o IBGE diz que Porto Alegre é a capital brasileira mais segregada
racialmente, fala do acesso à educação, saúde, de renda e trabalho, expectativa
de vida, por isso, iremos dialogar sobre temas concretos da vida do povo negro e
de periferia", afirma.
Matheus complementado
que a constituição da Frente Parlamentar Antirracista consolida a novidade das
eleições de 2020. “Se nos últimos quatro pleitos, apenas dois vereadores negros
foram eleitos na primeira chamada, em uma eleição foram cinco vereadores,
expressando o avanço da representação política negra no ano das maiores
manifestações antirracistas da história”, conclui.
“Ações como o lançamento
da Frente Antirracista me trazem esperança. Faz com que possamos olhar para o
futuro e compreender que existe uma possibilidade real de construção de algo
que é diferente do que sempre nos foi apresentado. A existência dessa frente
simboliza aquilo que eu, Laura, Reginete, Karen, Bruna e Matheus desejamos e
lutamos: um futuro igualitário, pensando nessa construção de possibilidades
reais de ascensão do nosso povo, da classe trabalhadora, que sempre correu
atrás. É um movimento necessário, quando nosso povo está sofrendo nesse período
tão duro, onde as desigualdades se acentuam”, finaliza Daiana Santos.
Conforme destaca a
bancada, o espaço é aberto para participação de todos vereadores não-negros e
servirá para formular políticas públicas para a capital gaúcha e articular
demandas do movimento social negro na Câmara. Na primeira reunião, participaram
mais de 40 entidades e coletivos negros de Porto Alegre, como o Movimento Negro
Unificado, a União de Negros pela Igualdade (Unegro) e o Clube Satélite
Prontidão.
Fabiana Reinholz Brasil de Fato | Porto Alegre | 30 de Abril de 2021 às 16:24
Piso salarial de enfermeiros e parteiras pode ser incluído na pauta de votações do Senado
A
inclusão na pauta de votações do piso salarial para enfermeiros e parteiras (PL
2.564/2020) é uma das reivindicações que devem ser levadas por senadores na
próxima reunião de líderes. Ao longo de toda a semana, senadores se
manifestaram, em Plenário e pelas redes sociais, a favor do projeto,
apresentado pelo senador Fabiano Contarato (Rede-ES). O relatório da senadora
Zenaide Maia (Pros-RN) é favorável à aprovação, na forma de um substitutivo
(texto alternativo).
O
projeto institui o piso salarial nacional para enfermeiros, técnicos e
auxiliares de enfermagem e parteiras. O projeto, apresentado pelo senador
Fabiano Contarato (Rede-ES) fixa o piso em R$ 7.315 para enfermeiros. As demais
categorias terão o piso proporcional a esse valor: 70% (R$ 5.120) para os
técnicos de enfermagem e 50% (R$3.657) para os auxiliares de enfermagem e as
parteiras.
O
relatório de Zenaide Maia contém algumas mudanças em relação ao texto original.
Uma delas é a previsão de que a jornada normal de trabalho desses profissionais
não será superior a 30 horas semanais. O texto original determinava que o
valor do piso seria aumentado proporcionalmente para cargas horárias maiores. A
compensação de horários e a redução da jornada podem ocorrer por acordo ou
convenção coletiva.
Também foi alterada a data de vigência da lei. O texto original previa a entrada em vigor 180 dias (seis meses) após a data da publicação. O substitutivo determina que a lei entrará em vigor no primeiro dia do exercício financeiro (ano) seguinte ao de sua publicação.
Campanha
Na
última reunião de líderes, no dia 23, senadores defenderam a inclusão do
projeto na pauta do Plenário. Depois, ao longo da última semana, vários
parlamentares fizeram declarações de apoio ao texto nas redes sociais e durante
as sessões remotas de votação.
Fabiano
Contarato, autor do projeto, disse que pretende seguir com a mobilização para
aprovar o texto e dar dignidade salarial para os profissionais que arriscam
suas vidas para salvas as dos brasileiros nesta pandemia. Na última quarta-feira
(28), ele elogiou o texto apresentado pela relatora e pediu que o projeto seja
incluído na pauta.
—
Esses profissionais não querem ser chamados de heróis, esses profissionais
querem dignidade salarial. Eles estão dormindo nos corredores dos hospitais.
Eles não têm alojamento, eles não têm equipamentos de proteção individual, não
têm aposentadoria especial. Eles ganham, a maioria deles, menos que um salário
mínimo ou um salário mínimo. É muito cômodo fazer um discurso enaltecendo esses
profissionais, mas a efetivação disso está na aprovação do projeto — disse o
senador.
Para
a relatora, um piso salarial nacional possibilitará a oferta de serviços de
saúde com qualidade. A senadora disse considerar que não é razoável exigir que
justamente aqueles que trabalham nas piores condições recebam os piores
salários ou remunerações. Ela lembrou, ainda, os sacrifícios que estão
sendo cobrados deles no período atual.
—
Sabem quem vai vacinar a população nos feriados, aos sábados e domingos? O
pessoal da enfermagem, gente. São os técnicos e enfermeiros que vão trabalhar.
E 89% dos trabalhadores em enfermagem são mulheres. Esse projeto senador
Fabiano Contarato, conta com o apoio da Bancada Feminina — disse a senadora,
também em sessão remota.
O
senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) também manifestou apoio ao pedido de
Contarato. Para ele, o piso é merecido, não só pelo momento atual, mas pelo
trabalho que eles sempre fizeram.
— É um piso mais do que justificado não apenas por estes momentos árduos, áridos, cáusticos, dolorosos e atrozes que nós vivemos na pandemia, que terminam por mostrar a importância de técnicos, de auxiliares, de enfermeiros a quem não tem essa dimensão.
Fonte:
Agência Senado
sexta-feira, 30 de abril de 2021
DESIGUALDADE QUE MATA.
Sepultadores trabalham no cemitério de Vila Formosa, na
capital paulista. Foto: Karime Xavier/Folhapress
Estudo inédito mostra que pobres, negros e pessoas de baixa escolaridade correm risco maior de morrer por Covid na cidade de São Paulo
A ilusão de que a Covid-19 seria
uma doença democrática e atingiria da mesma forma todas as raças, classes e
gêneros durou pouco – os números da pandemia escancararam ainda mais a
desigualdade brasileira. É o que comprova o estudo Social Inequalities and Covid-19
Mortality in the City of São Paulo (Desigualdades sociais e mortalidade
Covid-19 na cidade de São Paulo), que analisou as mortes ocorridas na capital
paulista entre março e setembro de 2020. De acordo com o estudo, conforme
diminuem os indicadores socioeconômicos, como o acesso à educação e a renda,
aumentam os riscos de morte por Covid-19. Para além do dinheiro, a cor da pele
é o fator mais preponderante para o risco de perder a vida por causa do
Sars-CoV-2, uma vez que entre pretos e pardos as taxas de mortalidade são 81% e
45%, respectivamente, mais altas que as de pessoas brancas.
Publicado em 28 de fevereiro
deste ano, no International Journal of Epidemiology, da Oxford Academic, o
estudo usou dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade da cidade de São
Paulo. O sistema registra todas os óbitos acontecidos no município, com
informações sobre idade, sexo, raça, distrito de residência, local e data de
morte, tipo de administração da unidade de saúde (pública ou privada) e a causa
da morte. Esses dados foram cruzados com os indicadores socioeconômicos dos
locais de moradia dessas pessoas, o que permitiu aos pesquisadores entender
como os contextos sociais podem influenciar na eficiência do combate à
Covid-19.
Os números mostram a relação
entre o nível de escolaridade e o risco de morrer por Covid. Na população jovem
e adulta, entre aqueles que vivem em áreas com menor percentual da população
com curso superior, a mortalidade foi quatro vezes maior em comparação com o
grupo que mora em áreas mais escolarizadas. Isso pode ser consequência da
exposição maior ao vírus devido à ida ao trabalho, o uso de meios de transporte
e a alta incidência de comorbidade entre pessoas com menos escolaridade.
“A desigualdade sempre existiu, a
pandemia só veio para escancarar isso. E quando a gente fala da diferença
racial, aí que o abismo fica ainda maior“, diz Karina Ribeiro, professora e
pesquisadora do departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas
da Santa Casa de São Paulo, que liderou o estudo. “A heterogeneidade em altas
taxas de morbidade e mortalidade de Covid-19 está frequentemente associada à
estrutura de saúde de um país e à desigualdade social, por isso esses dados
repetem os abismos sociais do Brasil.”
O estudo comprova uma associação
direta entre raça e local de morte. Enquanto os asiáticos foram o grupo com
maior percentual de óbitos domiciliares, os negros (soma dos pretos e pardos)
apresentaram os maiores percentuais de óbitos em unidades de saúde que não
hospitais, ou seja, unidades básicas de saúde. Além disso, três em cada quatro
os negros morreram em instituições públicas; já brancos (49,4%) e asiáticos
(72,2%) morreram mais frequentemente em unidades de saúde privadas ou sem fins
lucrativos. Isso pode estar relacionado com as barreiras no acesso à saúde. A
cidade de São Paulo possui 4,09 leitos de unidade de terapia intensiva (UTI)
por 10 mil habitantes, mas essa taxa é de 5,27 no setor privado e apenas 1,58
para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Os impactos da desigualdade
social na letalidade da doença também ficam claros na comparação entre os
distritos com a maior e a menor taxa de mortalidade. O Brás, bairro de classe
média conhecido pelo comércio de roupas na região central de São Paulo,
registrou 192,3 óbitos por 100 mil habitantes, número quase quatro vezes o
verificado no Jardim Paulista, bairro de elite, cuja taxa foi de 48,1 óbitos
por 100 mil habitantes. Na capital paulista como um todo, o índice foi de 123,2
óbitos/100 mil habitantes “Não é que as pessoas mais ricas não se infectam ou
morrem, o que acontece é que elas têm mais recursos à disposição que ajudam
para que a mortalidade nesse grupo social seja menor”, apontou Ribeiro.
De acordo com a pesquisa, em áreas
ricas, a desigualdade entre brancos e negros aumenta. É esse segundo grupo que
morre mais. Quando moram nesses bairros, os negros residem no trabalho, como
empregados domésticos, mas o acesso deles à saúde não é igual, e suas condições
de vida não são as mesmas. “O empregado não tem o mesmo tratamento de saúde do
patrão, ele habita aquele lugar, mas não pertence a ele. É a questão racial se
mostrando mais forte que as demais. A diferenciação racial vai aumentando
conforme aumenta a renda.”
Um outro dado que chamou a
atenção da pesquisadora foi a diferença entre homens e mulheres quando o
assunto é risco de morte por Covid-19. O levantamento aponta que, em todas as
idades, pessoas do gênero masculino têm 84% mais risco de morrer do que as do
gênero feminino. A ciência ainda não consegue cravar o porquê disso, mas alguns
fatores podem explicar a disparidade, como hormônios sexuais, diferenças no
estilo de vida que podem resultar nos homens maiores comorbidades, diferenças
na exposição ao Sars-CoV-2 devido a fatores comportamentais e ocupacionais ou
consciência dos sintomas e adesão às medidas preventivas de saúde.
As desigualdades apontadas pelo
estudo poderiam ser ainda maiores se os indicadores socioeconômicos utilizados
tivessem sido colhidos de cada uma das 19,5 mil pessoas que morreram no período
estudado. Porém, ainda que o sistema de registro de óbito paulistano seja um
dos mais completos e ágeis do Brasil, essas informações não estavam
disponíveis. Mesmo assim, entendem os pesquisadores, é possível imaginar que as
conclusões podem servir como parâmetro para entender a dinâmica das mortes por
Covid em todo o país. “Esses resultados, ainda que sejam específicos da cidade
de São Paulo, podem ser usados para se ter uma noção do que acontece em outras
grandes cidades. Existe, inclusive, a possibilidade que os índices de
desigualdade sejam ainda piores fora da capital paulista”, diz.
No fim do período estudado, houve
uma tendência de diminuição na mortalidade em todos os grupos raciais, que
começou mais cedo entre brancos e asiáticos, em comparação com pretos. Uma
explicação possível para isso é a dificuldade em implementar medidas de
distanciamento social e higiene adequada em áreas com alta vulnerabilidade
social devido à aglomeração familiar e às precárias condições de vida.
Com o recrudescimento da pandemia
e os recordes diários de mortes por conta da Covid-19, a tendência de mortes
deve se repetir. “A direção para que se aponta é quase a mesma de quando
começamos o estudo, só que mais acelerada. Nada foi feito para mudar essa
tendência, pelo contrário. Houve um desincentivo às medidas protetivas e isso
impacta fortemente nas camadas menos favorecidas”, avaliou Ribeiro. Para a
pesquisadora, a politização da pandemia sabotou o sistema de saúde e o programa
de vacinações. “O que aconteceu no Brasil foi uma esculhambação geral,
principalmente por parte do governo federal. A negação da ciência e a descrença
no perigo da Covid-19 todos os dias desorientam a população e levam ao caos que
estamos vendo.”.
08mar2021_13h23
MARCOS AMOROZO
(siga @marcosamrz no Twitter)
Estagiário de
jornalismo na Piauí, é estudante da Universidade de Brasília (UnB)
sábado, 24 de abril de 2021
Entrevista sensacional de Jalil Abdul Muntaqim ex-membro do Partido dos Panteras Negras (BPP) e do Exército de Libertação Negra (BLA) a Breno Altman do OPERAMUNDI
Sábado dia 24/04/2011 as 11hs (horário do Brasil), os internautas e seguidores do OPERAMUNDI, Canal do Yuotube apresentado e comandado por Breno Altman, foram agraciados pela sensacional entrevista com Jalil Abdul Muntaqim, ex-membro do Partido dos Panteras Negras, que teve sua liberdade concedida pela justiça Americana (EUA) após cinquenta (49) anos de prisão.
Jalil Abdul Muntaqim (nascido Anthony Jalil Bottom em 18 de outubro de 1951) é um ex-membro do Partido dos Panteras Negras (BPP) e do Exército de Libertação Negra (BLA). Em agosto de 1971, ele foi preso na Califórnia junto com Albert “Nuh” Washington e Herman Bell e foi acusado do assassinato de dois policiais da NYPD , Waverly Jones e Joseph A. Piagentini, na cidade de Nova York em 21 de maio. Em 1974, ele foi condenado por duas acusações de homicídio de primeiro grau e sentenciado à prisão perpétua com possível liberdade condicional após 22 anos. Muntaqim tem sido objeto de atenção por ter sido repetidamente negado à liberdade condicional, apesar de ser elegível desde 1993. Em junho de 2020, Muntaqim estava supostamente doente por corona vírus. Ele foi libertado da prisão em 7 de outubro de 2020, após mais de 49 anos de prisão e 11 negações de liberdade condicional.
Outras fontes: https://en.wikipedia.org/wiki/Jalil_Muntaqim